quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Fracturas nas hostes socialistas


Primeiro acto: Mário Soares critica em entrevista ao i, ontem publicada, o facto de Manuel Alegre ter "um pé dentro e outro fora" do Partido Socialista. Segundo acto: para o próprio Alegre essa não é a notícia que encontra nas respostas do líder histórico socialista. "Quando Soares diz na entrevista 'eu gosto dele, dou-me bem com o temperamento dele', é aí que está a parte nova", responde em declarações ao i. "Até agora Soares só me fazia críticas", acrescenta.

Elogios à parte, ainda numa reacção às declarações de Mário Soares, Manuel Alegre não deixa o antigo amigo sem resposta. Pega na manchete do i e devolve-a. "Ele também teve um pé dentro e outro fora", aponta. "Soares foi muito criticado quando se suspendeu do partido durante a candidatura de Ramalho Eanes e eu fui dos poucos que estiveram com ele", relembra Alegre, recuando 29 anos.

Decorriam então as eleições presidenciais de 1980. Mário Soares, então secretário-geral do PS, resolve suspender o cargo em protesto com a posição assumida pelo general Ramalho Eanes, candidato apoiado oficialmente pelo PS, durante uma conferência de imprensa, pouco antes das eleições.

Em causa estavam as declarações de Ramalho Eanes em que o general defendia que o eleitorado das presidenciais era constituído por portugueses - e não por partidos. Esta posição, interpretada por Soares como uma deslealdade em relação ao Partido Socialista, leva-o a afastar-se do cargo de liderança do partido em sinal de protesto. Estas declarações foram a gota de água para o líder socialista que, antes mesmo desta conferência de imprensa, estava relutante no apoio à candidatura do general à Presidência da República.

Com este passo, Soares e PS desalinham--se no discurso, pelo menos durante o tempo que durou a campanha eleitoral. A Comissão Nacional do Partido Socialista opta por manter o apoio a Eanes, em resultado do acordo pré-eleitoral feito entre o PS e o general antes das eleições legislativas de 1980, que deram a vitória a Francisco Sá Carneiro.

Ramalho Eanes acaba por ser reeleito na primeira volta das presidenciais com 56% dos votos. No mesmo dia Soares fez 56 anos. Pouco depois, o líder regressa ao cargo de secretário-geral.

Ontem, por coincidência ou não, Manuel Alegre recorda este episódio no mesmo dia das eleições presidenciais: 7 de Dezembro, aniversário de Mário Soares.

Em declarações ao i, Manuel Alegre explica que, com esta lembrança, "não quer dizer nada" e sublinha apenas um voto: "Como Soares faz hoje anos, aproveito a oportunidade para lhe dar os meus parabéns pelos 85 anos. Desejo-lhe muita saúde e muitos e bons anos."

Pé dentro e outro fora Para Medeiros Ferreira, a expressão usada por Mário Soares faz sentido. "Todos os candidatos presidenciais têm um pé dentro e um pé fora do partido. Faz parte da natureza do cargo", assinalou. Para o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Mário Soares, Manuel Alegre é "vítima das circunstâncias". "Depois de ter um milhão de votos durante as presidenciais de 2006, Alegre tem de prosseguir para uma nova candidatura", defende o politólogo.

No entanto Medeiros Ferreira, manifesta algumas reservas: "Não sei se [a candidatura de Alegre] será uma boa repetição." Por um lado, "Alegre deu a vitória a Cavaco Silva em 2006 porque foi responsável pela cisão da esquerda" e, por outro, o próximo candidato presidencial tem de promover "uma refederação da esquerda" para derrotar Cavaco. Por isso, defende o socialista, "ou aparece um candidato novo [da esquerda] ou Cavaco Silva ganha".

Por enquanto, Manuel Alegre não admite candidatar-se às eleições presidenciais de 2011. "Não posso, por ora, responder às vossas palavras", disse na semana passada num jantar em Braga onde se reuniu com meia centena de apoiantes. Deixou antes um sinal de que pondera a questão: "Não abro nem fecho portas."

fonte: jornal I

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