sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Alemu Aga – Hoje às 22 horas na Culturgest Porto


Amplamente desconhecida do mundo Ocidental até meados dos anos 1980, a música etíope, uma multitude de expressões culturais e espirituais próprias de um vasto país, independente (à excepção da relativamente breve ocupação fascista italiana no século XX) há milhares de anos, tem sido revelada perante nós no último par de décadas, recebida com o maior entusiasmo, admiração e reverência.

O principal responsável por este notável trabalho de divulgação é Francis Falceto, produtor francês que continua a dirigir, vai para 12 anos, a essencial série de discos Ethiopiques, com mais de duas dezenas de alguns dos fundamentais documentos da música etíope do último século. O 11º volume deste conjunto de obras, pertence a Alemu Aga, das pedras mais preciosas que, por cá, deste lado dos mares e oceanos, temos podido avistar.

Aga é um dos grandes – e cada vez mais escassos – mestres da begena, um instrumento que se aproxima da família das liras e das harpas, que se crê ter origem no país desde a época do Rei David, há cerca de três mil anos. Um instrumento inicialmente conotado com um meio real e aristocrático (vários membros da família real etíope, ao longo dos tempos, tocavam-no), sofreu uma democratização no seu uso e tradição em épocas mais recentes. É quase exclusivamente utilizado em orações (mesmo que não em espaços ou ocasiões de âmbito religioso, onde não existe esse hábito), como música de meditação, sempre num registo puramente solista, nunca se misturando com outra instrumentação.

Resulta de uma antiga e extensíssima tradição oral, sem qualquer espécie de notação que hoje, não havendo mais mestres a ensinar a begena em escolas de música no país (Aga foi o seu último professor nesse meio), vê a continuidade dos seus grandes músicos e intérpretes – e a sua própria, também – ameaçada.

Alemu Aga, tocador, geógrafo e lojista residente em Adis Abeba, viaja, há já algum tempo, um pouco por todo o mundo (mesmo que não tantas vezes quanto a sua arte o merece), a mostrar esta sua maravilhosa música ancestral, que parece pertencer a este e a todos os outros tempos, passados, futuros, espaciais, tridimensionais. Uma música da maior solenidade, sintonizada com uma paz eterna, luminosa, beatífica, capaz de nos levar para um outro estado, um outro sítio, de nos devolver a uma outra vida.

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