terça-feira, 2 de março de 2010

Entrevista Pedro Passos Coelho - 2

Continuação da entrevista de Pedro Passos Coelho ao Diário de Notícias e à TSF

Estará absolutamente contra qualquer hipótese de um Governo de iniciativa presidencial, que estabeleça um Governo de bloco central ainda que transitório?

Julgo que é mais do que chover no molhado, é absolutamente aventureiro num ano como aquele que estamos a atravessar, de grave crise económica, encontrar fórmulas de Governo que não são viáveis e que não são sustentáveis.

Mas pode acontecer que depois de umas eleições antecipadas, com uma vitória do PS ou do PSD, se volte ao mesmo, ou seja, ter um Parlamento que está tão dividido que só a junção destes dois partidos permite um Governo maioritário.

Julgo que não posso ser mais claro: eu acho que só pode haver, num ano tão difícil como este que enfrentamos, um novo Governo e um novo Primeiro-Ministro depois de ouvido o País, depois de eleições. Tenho muita confiança que o País não vai voltar a escolher como escolheu nas eleições de Setembro passado se tiver uma verdadeira alternativa para o Governo. E se hoje nós temos o Partido Socialista a governar, se temos o Primeiro-Ministro José Sócrates à frente do Governo, isso deveu-se ao facto de o PSD não ter estado ao nível das suas responsabilidades e de não ter oferecido ao País a alternativa de Governo que o País merecia.

Há liberdade de expressão por cá?

Se há coisa que há em Portugal é liberdade de expressão, não creio que ninguém tenha dúvidas sobre a liberdade de cada um se exprimir. Do que há dúvidas e suspeição é que não possa existir manipulação naquilo que é a comunicação social.

Manipulação em que sentido?

Manipulação no sentido em que há suspeita de que o Governo possa ter interferido em negócios que visavam a aquisição de grupos de comunicação social, no sentido de ter uma informação que pudesse ser mais próxima ou mais amiga do Governo, esta é a suspeição que existe. E não existe por acaso, o actual primeiro-ministro tem tido ao longo dos anos uma relação difícil com a comunicação social e não é invulgar aparecerem, de resto, agentes, pessoas ligadas à comunicação social que dizem que sofrem pressões, ou que o Primeiro-Ministro ele próprio pega no telefone e liga falando com os jornalistas no sentido de condicionar a opinião que é expressa nos órgãos de comunicação social.

Tem visto utilidade nas inquirições da Comissão de Ética?

A Comissão de Ética está muito perto de ter cumprido o seu papel. Aquilo que preocupa, que deve preocupar o País, é a necessidade de ter quer o Parlamento quer o Governo muito focados no ataque à crise económica. O prolongar de uma situação que visa investigar e pôr de lado estas suspeições sobre o envolvimento do Governo na comunicação social, ou de outras forças políticas, é necessário porque, se não tivermos um Governo com credibilidade, instituições políticas com credibilidade, eles também não podem desempenhar um papel suficientemente importante na resolução da crise. Mas não podemos é ter as duas coisas ao mesmo tempo, não podemos eternizar audições que visam suprimir uma suspeição que nunca mais sai da frente da vista e não ter também um Governo com credibilidade suficiente e um Parlamento suficientemente activo para garantir que o País está a fazer tudo o que pode para sair da crise. A Comissão de Ética devia rapidamente dar por concluído o seu trabalho.

O PSD vai defender a criação de uma comissão de inquérito. Está de acordo? Com que âmbito?

Já o defendi também, acho que deve haver uma comissão de inquérito com a missão específica de investigar o que se passou com o negócio falhado, tentativa de compra da TVI por parte da PT. É isto que merece ser investigado.

Está convencido de que o Governo teve intervenção neste negócio?

Não estou convencido disso, mas há suspeita suficiente sobre essa matéria, e o País não pode viver com essa dúvida. Mas é preciso fazer mais do que isso, já o tenho defendido: a comissão de inquérito deve avaliar exactamente quem é que sabia deste negócio, quem é que interferiu com este negócio e não o devia ter feito, se é que isso aconteceu, mas devemos também tirar ilações para o futuro. E por isso venho defendendo que o Estado, através do Governo, não demore muito tempo a declarar a intenção de alienar a “golden share” que tem na PT e criar condições para acabar com o Estado empresário da comunicação social.

A credibilidade do primeiro-ministro tem sido posta em causa e a suspeição mantém-se. Não se justifica que a oposição no todo, ou um partido em particular, apresente uma moção de censura?

A credibilidade do primeiro-ministro está muito abalada, mesmo o facto de termos tido eleições há cinco meses não faz esquecer que o Partido Socialista, apesar de ter ganho, sofreu uma quebra eleitoral muito significativa. Hoje, apesar de não se poder fazer nenhum Governo viável no actual Parlamento sem o Partido Socialista, o Partido Socialista tem dificuldades - e elas estão à vista - em governar de forma isolada. Estamos a atravessar uma situação em que se espera que o Governo governe, e o Governo tem tido dificuldade em fazê-lo, em grande parte, penso eu, por confiar demasiado em que daqui a um ano, ou daqui a dois, se a economia recuperar por uma espécie de milagre, o País possa ser poupado, e o Partido Socialista também, ao desgaste de tomar medidas difíceis. Nós hoje enfrentamos um custo de financiamento externo para a nossa economia muito maior porque o Governo apresentou uma proposta de orçamento no Parlamento que é pífia, que não tem força, que não tem credibilidade externa. O que eu tenho dito a esse respeito é, das duas, uma: ou o Governo assume as suas responsabilidades, apresenta um Orçamento credível, e este não é um Orçamento credível, e não é o PEC que vai tornar este Orçamento credível…

(continua)

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