domingo, 17 de janeiro de 2010

Interessante

Deixo aqui a transcrição de um interessante artigo de Pedro Marques Lopes no Jornal DN.

"
Santana Lopes conseguiu reunir as assinaturas necessárias para a realização dum congresso extraordinário. Saberemos proximamente - há ainda alguns requisitos importantes a cumprir - se efectivamente se vai realizar ou não.

As últimas iniciativas do ex-líder do PSD não correram bem. Nem para ele nem para o PSD. Desde ter aceitado formar um Governo sob a supervisão de Jorge Sampaio (que foi uma espécie de livre-trânsito para a maioria absoluta de José Sócrates) até à campanha falhada à Câmara de Lisboa, passando pela derrota eleitoral nas legislativas de 2005 e do insucesso que foi a sua tentativa de voltar à liderança do PSD, Santana Lopes parece porém ainda não se ter apercebido de que o seu capital de credibilidade está bastante enfraquecido. É que todos estes falhanços, nomeadamente os últimos, têm uma coisa em comum: tanto os eleitores como os militantes sociais-democratas recusaram voltar a vê-lo em cargos que já foram dele. Ou seja, experimentaram e não gostaram. Santana Lopes, quer se queira quer não, representa um passado que ninguém quer voltar a viver.

As razões substantivas que Santana Lopes tem aduzido para convocar um congresso extraordinário são pouco convincentes.

O ex-primeiro-ministro parece ter deixado cair a sua proposta inicial de fazer mudanças na forma de eleger o líder. É uma evolução - rápida, diga-se - que se saúda.

Poder-se-á concordar ou não com o sistema existente, mas tentar mudar, o que quer que fosse, no sistema de eleição do presidente do partido a dois ou três meses do acto eleitoral seria querer mudar as regras do jogo quando ele está a meio.

Em entrevista ao Expresso, admite que a reunião magna serviria - um "bocadito", nas suas palavras - para tirar eventuais candidatos da toca. Parece mais uma das brincadeiras a que Santana Lopes nos habituou. Não é suposto que uma pessoa que quer ser primeiro-ministro - é isso que está em causa - tenha já por esta altura um projecto, uma ideia, um conjunto de propósitos e, sobretudo, uma vontade clara de liderar os sociais-democratas? Irá descobrir no meio desse congresso uma vontade súbita de ser presidente do partido? Que credibilidade terá uma pessoa destas?

Esta semana, Santana Lopes diz também que é preciso o tal congresso extraordinário para fazer o balanço. Qual balanço? O balanço a que com certeza se refere já foi feito pelos portugueses e pelos próprios militantes do PSD: o relatório foi entregue quando se contaram os votos nas legislativas. Mais tarde, a Dra. Ferreira Leite mostrou que o tinha compreendido quando declarou que não voltaria a candidatar-se e que marcaria as directas.

Convenhamos, um congresso, nesta altura, não serviria para outra coisa que não fosse prolongar a indefinição em que o partido vive, alimentar ainda mais as clivagens internas e, sobretudo, aumentaria o descrédito do partido juntos dos portugueses.

Seria algo de quase suicida ver o PSD perdido em discussões, mais que provavelmente de carácter pessoal, enquanto na Assembleia da República se vai acertando o Orçamento do Estado.

Pelos vistos, não é já só a direcção de Manuela Ferreira Leite (que num primeiro momento apoiou a ideia de Santana Lopes mas que depois de uns comentários pouco entusiásticos de alguns membros da comissão política se remeteu a um silêncio equívoco) a ser, de facto, o melhor aliado do Governo, agora outras vozes do PSD estão dispostas a facilitar a vida a José Sócrates - e a pôr em causa a reeleição de Cavaco Silva, convém não esquecer.

Será que alguém honestamente acredita que seria nesse congresso que se ia, de uma vez por todas, descobrir o caminho certo para o PSD ou que se ia pacificar o partido? É evidente que não. Se os congressos tivessem servido para isso, o PSD seria o mais pacífico e ideologicamente sólido partido português - basta contar a quantidade de congressos sociais-democratas nos últimos anos.

Santana Lopes, com esta iniciativa, está a prestar um mau serviço ao PSD e a contribuir para piorar o pouco saudável estado de um partido fundamental para a democracia portuguesa."

3 comentários:

Tiago Mendonça domingo, 17 de janeiro de 2010 às 16:03:00 GMT  

Opiniões.

Quanto a mim acho que tentar marcar um Congresso, para se discutir ideias, é sempre positivo. Não é um mau serviço.

Mais, o Dr. Santana Lopes não marca o Congresso sozinho. Existem milhares e milhares de militantes que também sentem necessidade deste Congresso. O Dr. Santana Lopes foi apenas o motor de arranque deste processo.

Poderemos considerar mais ou menos oportuno, a realização deste congresso. Concordar ou não com o tempo escolhido. Daí até ser um mau serviço para o PSD...vai um grande passo.

Ricardo Andrade segunda-feira, 18 de janeiro de 2010 às 13:10:00 GMT  

Caro Tiago,
É isso mesmo...opiniões!
O post tem o título de interessante pois julgo que é interessante analisar como, na sociedade civil, se vê o pedido de marcação de Congresso em questão.
Escolhi o artigo de Pedro Marques Lopes na medida em que não é militante do PSD mas é um analista que se debruça várias vezes sobre assuntos de política.
Como é óbvio a opinião de cada um diz respeito a cada um e cada um é responsável por aquilo que pensa e diz.
Como é óbvio, julo que discutir ideias é sempre um bom serviço.
Quanto á oportunidade ou não, seria preciso um comment muito mais extenso em que teríamos que analisar não só a importância do debate mas a imagem que ele transmite aos portugueses pois
fazer política sem pensar nas pessoas e para as pessoas não faz sentido.
Um abraço.

Ricardo Andrade segunda-feira, 18 de janeiro de 2010 às 13:11:00 GMT  

Caro Tiago,
É isso mesmo...opiniões!
O post tem o título de interessante pois julgo que é interessante analisar como, na sociedade civil, se vê o pedido de marcação de Congresso em questão.
Escolhi o artigo de Pedro Marques Lopes na medida em que não é militante do PSD mas é um analista que se debruça várias vezes sobre assuntos de política.
Como é óbvio a opinião de cada um diz respeito a cada um e cada um é responsável por aquilo que pensa e diz.
Como é óbvio, julo que discutir ideias é sempre um bom serviço.
Quanto á oportunidade ou não, seria preciso um comment muito mais extenso em que teríamos que analisar não só a importância do debate mas a imagem que ele transmite aos portugueses pois
fazer política sem pensar nas pessoas e para as pessoas não faz sentido.
Um abraço.

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