sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Entrevista de Miguel Relvas ao Diário de Notícias, publicada na edição de hoje



Concorda com o pacto entre PSD e Governo para o Orçamento. Isso não compromete a futura direcção do partido?

Uma direcção do PSD, mesmo que de saída, pode dar um contributo para os interesses do País a longo prazo. Esta questão não se resolve em quatro anos. Mas a viabilização do Orçamento não pode resultar de uma mera negociação partidária. A verdade é que o governo tem que mostrar que está disponível para apresentar um orçamento realista e adequado à actual situação do País. Um orçamento que preveja o investimento público canalizado para as pequenas e médias empresas, ou seja para a exportação e que contenha o endividamento e o défice público.

Então o PSD está a agir com responsabilidade?

O PSD faz uma oposição rouca. É preciso construir uma alternativa de esperança e de mudança, o que só é possível com uma nova liderança do PSD. Esta liderança do PSD é claramente provisória.

O próprio Passos Coelho acordou que ela ficasse provisória.

A decisão já estava tomada por Ferreira Leite e não quisemos criar um novo caso político, pedindo a sua demissão. O PSD precisa de estabilidade e de seriedade.

Admite que José Pedro Aguiar-Branco seja o "outro" candidato ?

Admito que todos aqueles que têm uma ideia para o País sejam candidatos.

Mas não está a trilhar esse caminho no Parlamento?

Está a desempenhar a sua função de líder parlamentar numa situação particularmente delicada que é de não existir uma liderança efectiva do partido. Sem essa liderança não se constrói uma oposição com uma visão estratégica de médio e longo prazo.

No PSD, só Pedro Passos Coelho é capaz de desempenhar esse papel?

Será um excelente primeiro-ministro de Portugal.

Como pode ter essa certeza se ele nunca desempenhou um cargo público?

Conheço-o há muitos anos e tem um pensamento claro. Nas próximas semanas será conhecido aquilo que ele pensa na Educação, na Justiça, as propostas de combate à corrupção, a sua proposta de modelo económico.

Não deviam ter forçado a realização de directas mais cedo?

Teria sido melhor para o partido e para o País, mas daria uma imagem de muita ansiedade pelo poder. Agora, é desejável que as directas se realizem a 16 de Abril e o congresso até pode ser marcado, simbolicamente, para o dia 25 de Abril. A liderança do PSD tem vivido estes meses obcecada em encontrar um candidato que derrote Pedro Passos Coelho. Já não me surpreendia se Manuela Ferreira Leite se recandidatasse.

Qual o motivo dessa "obsessão"?

Têm medo da mudança. Têm receio que ideias novas venham trazer novas práticas e novas atitudes, nova abordagem da política. São pessoas que estão há muito tempo na vida pública, que têm uma relação muito próxima com o poder, seja interno seja público, e não o querem perder.

Como vê o congresso extraordinário proposto por Santana Lopes?

Pedro Santana Lopes faz parte do património do partido, foi seu líder. É uma pessoa que se move com bons instintos, mas nesta questão ele não tem razão. Exigir ao PSD dois congressos no momento em que o País vive é pedir muito. Para o País é indiferente o congresso do PSD. O que o País quer é que o PSD tenha uma liderança para uma alternativa a José Sócrates.

É partidário das directas?

Eu fui contra as directas e disse-o na altura. Mas depois de dado o primeiro passo dificilmente se voltaria atrás no modelo 'um homem um voto'. Agora, por uma questão de legitimidade, nas próximas directas, se o vencedor não tiver 50% dos votos deve haver segunda volta. Vou bater-me por isso.

A sucessão de líderes prejudicou o partido?

O PSD tem que ser menos ansioso e não cometer o erro de não ter uma liderança do princípio ao fim de uma legislatura. A actual líder do PSD, essa, foi avaliada em eleições e não ganhou.

Marcelo Rebelo de Sousa não foi avaliado?

Quem no passado teve dificuldades em conseguir os objectivos, como é que no futuro os vai concretizar? O PSD não pode resolver o seu problema olhando para a galeria dos ex-líderes. Ele foi líder e saiu porque quis.

Santana Lopes tomou a iniciativa do congresso para se candidatar?

Acho que será uma resposta que só dará mais para a frente.

Quando é que Passos Coelho apresenta o seu projecto ao País?

Assim que forem marcadas as eleições no partido. Tem ideia concretas para áreas como a justiça, saúde, educação e apoios na área social, em particular, no combate ao desemprego. Tem ainda propostas sobre desenvolvimento sustentado, voluntariado, lusofonia e política nas cidades. Portugal precisa de políticos que tenham uma agenda ambiciosa e estratégica.

O próximo líder do PSD deve já apontar as alianças que tenciona ou não fazer?

O bloco central tem que estar definitivamente posto de lado. O que têm que existir são compromissos de fundo entre os dois grandes partidos. O CDS fez nas últimas eleições, infelizmente por nossa culpa, um bom resultado. Temos que ser primeiro capazes de pedir ao eleitorado que nos devolva os 11 deputados que o PSD lhes emprestou. Mas eu acredito nas virtualidades de uma aliança PSD/CDS.

Mas o próximo líder deve apontar já esse caminho?

Tem como primeira obrigação fortalecer o PSD e voltar a ser visto pelos portugueses como alternativa de governo. Enquanto não tiver a força na sociedade e nas sondagens, o próximo líder do PSD não tem que andar a pensar em coligações.

Ainda se sente magoado por ter sido excluído da lista de deputados?

É a vida.

E o facto de Pedro Passos Coelho não ser deputado não o deixa sem palco político como aconteceu a Ferreira Leite?

Para se fazer política não tem que se estar obrigatoriamente no Parlamento. Tem que se ter ideias e estar perto dos cidadãos.

E ele será capaz de unir um partido "balcanizado"?

A unidade não se anuncia, pratica-se. Faz-se indo buscar os melhores e não tendo medo da sombra. Trabalhei com um líder que foi buscar muitos daqueles que o criticaram duramente, que foi Durão Barroso.

Seria possível convidar a Ferreira Leite para integrar um governo de Pedro Passos Coelho?

(longo silêncio) Acho que sim. Não vejo nenhuma objecção de princípio.

4 comentários:

Rui Santos sexta-feira, 8 de janeiro de 2010 às 11:21:00 GMT  

Boa entrevista de um Homem correcto e muito injustiçado pela actual Direcção do PSD.

Anónimo sexta-feira, 8 de janeiro de 2010 às 11:44:00 GMT  

Só propaganda para levar o menino até lá acima.
Não deixaremos.

Ricardo Andrade terça-feira, 12 de janeiro de 2010 às 11:35:00 GMT  

Caro Rui Santos,
Concordo consigo.
Julgo que o valor da pessoa em questão é indiscutível!

Ricardo Andrade terça-feira, 12 de janeiro de 2010 às 11:44:00 GMT  

Caro anónimo,
Começo por lhe dizer que, apesar e estar no seu direito ao não se identificar, creio que é sempre bom assumirmos as nossas opiniões e com isto pretendo dizer que seria um prazer debater o seu comment podendo trata-lo por um qualquer nome que pretenda assumir ( caso não queira deixar aquele pelo qual os que o rodeiam habitualmente o tratam ).
Apesar disso deixo apenas uma ou duas notas: 1. No PSD as pessoas no geral e aquela a quem se refere em particular não são levadas a lado nenhum, vão pelo seu próprio pé e por sua vontade. É assim quando há qualidade, coerência e um percurso político digno.
2. Não sei quem será esse nós que representa mas quero dizer-lhe que no processo de eleição do líder do PSD são todos os militantes votantes que decidem.
Termino dizendo que tenho, naturalmente todo o gosto em saber mais das suas opiniões sobre este assunto.
Sempre a considera-lo, mesmo sem saber quem é!!

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