quinta-feira, 6 de maio de 2010

Pessoas antes do canto do cisne

You may say I’m a dreamer but I’m not the only one
Imagine,
Lennon / McCartney ou McCartney/Lennon

Em conversa com um amigo, e enquanto decidíamos qual seria o tema central deste texto, ele dizia-me com toda a energia:
- É óbvio, Filipe... Pessoas, falemos de e sobre as pessoas.
Sim, ele tinha razão. Como é possível esquecermo-nos tantas vezes do óbvio? Daquilo que é o mais importante. As pessoas.
A nossa geração colocou as pessoas em segundo plano. De forma tão gritante e tão chocante que parece que nos tornámos num mero número de estatística. Queremos mais e mais e mais, tendo como bandeira o bem-estar (do qual nunca chegamos a fruir), porque queremos mais e mais e mais. Ultrapassam-se valores, ultrapassam-se amigos. Esbarramos na estupidez egoísta e arrogante dos números reais ou ficcionados.
A frieza matemática supera a razão. Tudo é gerido pelos números, taxas, audiências, médias, crescimento, desemprego, inflação, escalões de IRS, tudo números, tudo índices e/ou indicadores que parecem esmagar o mais importante, as pessoas. A nós, Zequinha.
Não há nada mais fácil de manobrar do que números, os números constroem-se em função dos desejos. Qualquer contabilista que tenha cursado ou passado por uma entrevista de emprego sabe que 1+1= aquilo que o cliente desejar, dentro da lei, claro…
Eu não quero ser uma «sombra fútil a que chamam gente», como afirmava Pessoa. Eu quero ser feliz, quero ver as pessoas felizes ao meu lado para que eu possa ainda ser mais feliz. Quero ver uma regressão do aceleramento social e profissional, e que todos os males que se aceitam como normais deixem de assumir uma normalidade anormal.
As leis não se cumprem, nem os códigos de ética, nem os padrões de moral humana (não falo da subjectiva moral de conduta), a guerra das instituições é uma realidade, a guerra das razões uma ausência. Não podemos continuar a destruir lares e famílias, sonhos e realidades numa desumanização social permanente.
O mais importante somos nós, as pessoas, sim as pessoas, aqueles com quem nos cruzamos no elevador sem sequer lhes dizermos bom dia, aqueles com quem trabalhamos há anos e que só hoje sabemos onde moram porque lhe pedimos uma boleia. As pessoas fazem o mundo, não pode ser o mundo a governar as pessoas. Não sejam escravos do vosso trabalho, do vosso carro, da vossa inércia, o Homem constrói o mundo, a poesia e o amor constroem o Homem.
Por isso façam poesia, leiam livros, vão ao cinema, de vez em quando esforcem-se por cumprir os horários laborais, levem os vossos entes queridos a passear, vivam, vivam a vida sem esquecerem que a passagem é efémera, que o tempo passa a um ritmo alucinante e que se não formos construindo uma teia de amor em torno de nós, de nada nos serve o dinheiro ou a vida.
Construam a poesia da vida, sem versos, sem palavras, sem letras, mas com os actos e os comportamentos.
Amem e deixem-se amar.
Não facilitem, procurem a felicidade e, se querem correr para algum lado, corram atrás da felicidade.
Sejam felizes por vocês e pelos outros.

«Always walk on the bright side of life»

Monty Python

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