terça-feira, 24 de novembro de 2009

Uma reflexão interessante

Ao passar os olhos pelo DN deparei-me com esta pertinente reflexão de Pedro Marques Lopes.

Pertinente porque põe o dedo em algumas feridas.
Pertinente porque levanta questões objectivas.

Mas ao ler esta reflexão noto que fica uma pergunta por fazer:
" O que é direita em Portugal?"

Ficará, com certeza, para outros textos.

"É o fim, é o fim, berram os novos revolucionários. As instituições estão irremediavelmente desacreditadas: a justiça é uma farsa, o Governo serve para os do partido no poder se governarem, a Assembleia da República só tem medíocres, os empresários são todos uns ladrões, as escolas não ensinam, as pessoas morrem à espera de um médico, a cultura está nas mãos dos amigos do poder, a corrupção é generalizada. É a choldra; é o lodaçal; é a piolheira; não há nada a fazer.

Há que destruir tudo para começarmos do zero. Quase se pressente o desapontamento pelo sossego dos militares. Estivessem eles maldispostos e já faltava pouco para se poder construir um mundo novo, livre desta horrível escumalha.

Eis o novo discurso de uns cavalheiros ditos de direita.

Pudessem estes justiceiros de pacotilha orientar as massas e tudo ficaria como deve ser.

Que um ou outro rapaz mais velho, com escola de extrema esquerda, faça este discurso em alturas de maior fragilidade, vá que não vá. Deve ser, com certeza, duro saber a verdade, montar uma estratégia brilhante e depois ver que pouca gente percebeu tanta genialidade. Claro está: isto é só gente estúpida.

Já é mais difícil entender este discurso nos mais novos. Mas, pensando melhor, será que há coisa mais gira do que prever o fim do mundo? Para quê um tipo maçar-se com política? Com coisas tão comezinhas e pequeno-burguesas como melhorar a educação, o ordenamento territorial, a condição das empresas, o emprego ou a segurança social? Nada disso. É perder tempo e ninguém quer saber. A malta quer é ouvir dizer mal dos "gajos" e do sistema. A malta quer é alguém que lhe diga a "verdade".

Para quê falar do papel do Estado na economia se podemos fazer, da nossa secretária, o funeral da República?

Quem haveria de dizer que é da direita - graças aos deuses são poucos - que vem a vanguarda da revolução?

Escusado será dizer que ninguém ouve ou lê uma linha acerca do que estes iluminados têm para propor. Simplesmente porque isso, para eles, não interessa e porque, a bem dizer, eles também não sabem.

Aliás, isto de não dizer ao que se vem lembra uma estratégia eleitoral recente, mas deve ser coincidência.

Ainda dentro da boa escola da extrema esquerda a luta é sempre pessoal. Esqueçam-se as políticas, os valores, a ética, o Estado de direito. Destrói-se a personalidade do adversário e mil sóis raiarão.

Mas será que alguém pensa que esta estratégia trauliteira, demagógica e populista levará a algum lado?

São estes profetas da desgraça que destroem a imagem da direita no eleitorado.

Quem poderá confiar em gente que nada tem a propor senão o caos? Gente que acha que a luta política se pode basear numas conversetas privadas e em descobrir quem é amigo de quem. Gente que besunta a política de intriga e insultos.

Gente que em vez de investir tempo e esforço a apresentar propostas e em mostrar ao País que existe outro caminho, que não o deste Governo, se entretém em sanhas persecutórias.

Que em vez de gastar o tempo a elaborar teorias da conspiração, não denuncia os monstruosos erros da governação socialista bem à vista, por exemplo, com os recentes números sobre o desemprego. Que, em vez de encher a boca com tiradas grandiloquentes sobre verdade e seriedade, aponta os problemas do actual sistema e propõe reformas sérias.

A direita tem de dizer ao que vem e não alinhar pelo diapasão destes baixos politiqueiros.

Tem de dizer que é preciso diminuir radicalmente o peso do Estado privatizando as centenas ou milhares de empresas públicas, municipais e aparentadas responsáveis em grande medida pela existente corrupção. Que quer mudar a legislação laboral, a lei das rendas, dar mais liberdade de escolha no momento de escolher a escola para os seus filhos ou a capacidade de escolher o regime de protecção na doença. Que quer que sejam as pessoas e as empresas o motor da mudança e não o monstro estatal.

É muito arriscado, não é? Dá trabalho, não dá?"

0 comentários:

  © Blogger template 'Solitude' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP